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Ut pictura poesis

Texto publicado no catálogo da 26ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo

Jacopo Crivelli Visconti

catálogo da exposição | 2004

A produção de Cabelo, mais do que pela equivalência imortalizada por Horácio em sua Ars Poetica, é marcada pela fusão entre pintura e poesia, mistura explosiva e, que letras se sobrepõem a imagens mal-e-mal esboçadas, indícios, idéias de histórias nunca desenvolvidas plenamente.

Artista culto, que não esconde suas fontes, porém avesso a todo tipo de catalogação. Cabelo é tanto poliédrico quanto vulcânico. Figuras afloram e desaparecem: fragmentos de frases se sucedem na tela sem ambição de chegar a um sentido completo. Como em suas performances, o artista não dá ao espectador todas as chaves de leitura, mantém-no suspenso, a um passo de compreensão. A sua narração é uma sobreposição oracular e fragmentada de motivos e idéias.

Transposição pictórica de obra de artistas como Clark e Oiticica, abertamente citados em diversas circunstancias, os tecidos de Cabelo não poderiam existir sem a participação direta e fértil do observador, a quem é delegada, em última instância, a tarefa de colocá-las em ação. Esta intervenção fecundante se dá tanto do ponto de vista intelectual, no desenvolvimento dos rascunhos narrativos disseminados pelo artista, quando do ponto de vista físico: as telas leves e quase transparentes se movem com o vento produzido pela passagem dos visitantes. Na instalação Mi casa su casa, a obra apresentada na 26ª Bienal de São Paulo, o universo Imaginário do artista ganha uma dimensão arquitetônica. Perambulando entre as paredes por ele mesmo acionadas, o visitante é quase absorvido pelas imagens, e tentando decifrá-las se envolve mais e nesta hipnótica teia de aranha, é sugado num mundo inacabado, e se olvida de si mesmo.